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STONEMILKER

Na locação de “Stonemilker”.

A música é quase como uma fuga ou uma música pop, mas tem um sentimento cíclico. É como se pudéssemos simplesmente circular de novo e de novo, repetidamente. 3—björk

Filmada em uma praia larga, de mar aberto e com a imensa extensão de céu e mar, a experiência “Stonemilker” de 360 graus aproxima os espectadores de Björk, criando uma sensação surpreendentemente íntima de presença real com a artista. Adicione o áudio binaural que leva à sensação de que os músicos que tocam instrumentos de cordas estão ao seu redor e o resultado é uma personificação mágica do som e da voz. Enquanto canta, Björk se aproxima e, quando menos se espera, de repente há várias Björks; ela se multiplica em conjunto com a estrutura da música, e o resultado é deliciosamente desorientador e sublime, mas da maneira mais aparentemente simples.
O projeto surgiu muito rapidamente na noite de uma sexta-feira e na manhã do sábado em novembro de 2014, com pouco planejamento. O diretor Andrew Thomas Huang vinha trabalhando com sua equipe, preparando um projeto diferente para outra música, quando Björk percebeu que “Stonemilker”, a primeira faixa de Vulnicura, seria algo melhor para se concentrar naquele momento. Intrigada com um dispositivo impresso em 3-D para a câmera GoPro que Tamsin Glasson havia trazido da empresa VRSE.works de Chris Milk, a equipe decidiu retornar à praia onde Björk havia composto a música e capturar lá um panorama de 360 graus. “Pensamos que poderia ser uma espécie de ficção documental”, explica Huang. “Há algo muito ritualístico nisso, que era muito atraente.”
A locação era próxima da península de Seltjarnarnes, em uma ilha chamada Grótta, acessível apenas em horários específicos do dia em que a maré estava favorável, o que significava que a filmagem poderia durar apenas duas horas. Huang usou uma série de câmeras equipadas com lentes de 180 graus voltadas para quatro direções, e a equipe teve que se esconder atrás de pedras durante cada tomada. “Improvisamos a indumentária. Enquanto Björk usava um vestido de Michael van der Ham, para a capa, usamos lençóis tingidos por uma amiga dela”, diz Huang, ressaltando a natureza improvisada do projeto. “Para as filmagens, fomos ao local exato em que ela havia composto a música e o usamos para pano de fundo. Precisávamos de mais do que apenas Björk andando em volta da câmera; então tive a ideia de captá-la de várias maneiras, para que mais tarde pudéssemos espelhar a estrutura parecida com a fuga da música, multiplicando sua figura repetidamente. Queria ter certeza de que poderíamos usar toda a tapeçaria de 360 graus.”
Huang descreve o processo de pós-produção de “Stonemilker” como tendo sido particularmente desafiador, com momentos de espontaneidade e improvisação que ecoam a apresentação de Björk. “Não tínhamos todas as ferramentas para ‘costurar’ os 360 graus e fizemos um monte de limpeza, foi muito penoso”, diz ele, acrescentando: “Mas foi inédito”.

Na locação de “Stonemilker”.

Direção de
Andrew Thomas Huang

Quando você entra nesse espaço digital com ela, celebra o hibridismo. Não são apenas “zeros e uns”; tudo se torna uma experiência neurológica íntima, com faixas de áudio deslizando em torno de objetos em 3-D. — Andrew Thomas Huang

A experiência “Stonemilker” de 360 graus foi exibida no MoMA PS1 como parte da exposição Björk, no MoMA, em 2015. A apresentação no PS1 contou com uma grande estrutura de cúpula com um panorama de 180 graus projetado em seu interior, além de dez estações de visualização com headsets de RV que permitiram aos espectadores experimentar vividamente a performance de sete minutos de Björk. “Mostrar ‘Stonemilker’ lá no PS1 parecia novo, oportuno e punk”, diz Huang, acrescentando: “e foi exatamente assim que fizemos. Para mim, essa configuração se parecia mais com o estilo da Björk. De certa forma, acho que foi o nascimento do projeto Björk Digital; foi a primeira vez que realizamos esse tipo de exposição, com uma instalação e o panorama de 180 graus projetados no interior da cúpula. Foi muito bom”.
Refletindo sobre a relação de trabalho de cinco anos que mantém com Björk desde que fez o vídeo “Mutual Core” em 2012 até o final de seu último projeto, “The Gate”, em 2017, Huang observa que muita coisa mudou no contexto da mídia, mesmo nesse curto período. Ferramentas e plataformas para criar e compartilhar projetos de RV e RA continuam a ir e vir, e a longevidade de muitos de seus projetos está em xeque. Entretanto, essa potencial efemeridade não impede seu entusiasmo. “Aprendi na arena comercial que você precisa tratar todos os projetos como se fossem o seu último”, explica ele. “Você sempre sabe que é melhor que fique ótimo; precisa que fique 100%, mas, quando terminar, será preciso deixá-lo.” Para deixar o argumento mais claro, diz: “Lembro-me de fazer desenhos em que você passa horas em um projeto e depois o instrutor destrói tudo”. Para Huang, você concentra toda a sua energia no trabalho e depois deixa tudo para trás e esquece.
Huang pode sentir-se empolgado com a constante evolução da tecnologia, mas é bastante grato a Björk por sua dedicação fundamental ao hibridismo. Ele explica o motivo: “Na qualidade de um cara asiático, jovem e gay, percebi que a internet, a tecnologia e a privacidade para se refugiar e trabalhar no seu quarto, no seu computador, ofereciam um espaço seguro para as comunidades gay, pessoas de cor e mulheres. A natureza criativa do trabalho individual e autônomo ao computador era um refúgio da cultura da música de dedilhado ao violão e autopromoção exacerbada”. Continua: “Comecei a filmar criando fantoches e trabalhando no meu computador; foi o conjunto de ferramentas digitais que me libertou. A ansiedade social relacionada à reunião de pessoas e a dinâmica de poder envolvida na organização de um set de filmagem nunca me deixavam à vontade. E na comunidade cinematográfica, o fato de haver tão poucas mulheres é terrível. Portanto, recorrer a ferramentas digitais é extremamente libertador, e a Björk canaliza essa ideia muito bem. Quando você entra nesse espaço digital com ela, celebra o hibridismo. Não são apenas ‘zeros e uns’; tudo se torna uma experiência neurológica íntima, com faixas de áudio deslizando em torno de objetos em 3-D. É uma reminiscência da ideia de Donna Haraway do cyborg como figura híbrida que mescla o humano com a tecnologia. A Björk sempre canalizou esse hibridismo. Agora somos todos cyborgs”.
“Stonemilker”, com sua intensa experiência de presença compartilhada com Björk, a fusão da figura humana com a paisagem e o som imersivo rodopiando ao nosso redor, cria um delicioso borrão das fronteiras entre corpo e mundo. Se é isso que significa ser um cyborg, excelente!

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