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CINEMA

Ainda acho que o videoclipe é o melhor formato para alguém se expressar. É incrível. 11—björk

Quando faço música, é o meu mundo, mas com o visual, é mais uma parceria – eu me sento com os diretores e explico a natureza da música e as cores, e eles tendem a levar consigo a explicação e dar à peça seu próprio tratamento. 12—björk 12—björk

Björk, com o corpo inteiramente branco, fios vermelhos brotando de seus mamilos e se entrelaçando no seu corpo.

Björk, robô, acariciando a coxa de outro cyborg atraente, e os dois se beijando.

Björk, careca, transformando-se num urso polar.

Björk, rindo, dançando animadamente em plena cidade de Nova York, na traseira de um caminhão.

Björk, em close, com lágrimas coloridas entrando e saindo de olhos, boca e nariz.

Cativante, engraçada, inteligente e sexy: quem não conhece e ama algumas das imagens mais icônicas da história do videoclipe criadas para músicas cantadas por Björk?

O conjunto de obras reunido para “Cinema”, apresentando videoclipes de Björk, atesta a longa e consistente compulsão de Björk por encontrar e trabalhar com os talentos de cinema mais promissores do mercado. Seus diretores já incluíram Michel Gondry, com quem produziu oito vídeos até o momento, incluindo a deslumbrante paisagem onírica de “Hyperballad”, que destaca o fascínio contínuo de Björk pelo espaço dos sonhos; Spike Jonze, que reimaginou o clássico musical de Hollywood em “It’s Oh So Quiet”, com uma coreografia dinâmica que lembra os filmes de Busby Berkeley dos anos 1930, mas filmada na garagem de um mecânico; Sophie Muller, que produziu “Venus as a Boy”, que reencena o nocaute da domesticidade da merecidamente famosa feminista Martha Rosler, em Semiotics of the Kitchen, acrescentando uma ou duas referências à pornográfica Story of the Eye, de Georges Bataille; e Andrew Thomas Huang, que criou uma fusão gótica de emoção, ciência e paisagem em “Mutual Core”, descrito como “pornografia geológica” por ninguém menos que a revista Scientific American. Fica evidente que os projetos entram e saem da história da vanguarda, e como muitos dos melhores videoclipes dos últimos trinta anos, captam as novas direções mais promissoras para contar histórias muito antes da indústria do longa-metragem.
As contribuições de Björk para essa área da cultura visual não passaram despercebidas pelos estudiosos. “Art/Music/Video.com”, de Maureen Turim, por exemplo, traça linhas de conexão entre os videoclipes e as práticas artísticas de vanguarda das décadas anteriores, incluindo dadaísmo, surrealismo e o que ela chama de “alto erotismo artístico”. Turim destaca as maneiras pelas quais vários diretores procuraram registrar a “longa busca de Björk pelas artes plásticas de vanguarda” como corolários de suas canções, que se movem, da mesma forma, entre vanguarda e pop. Em “Completing the Mystery of Her Flesh: Love, Eroticism and Identity in Björk’s Videos”, Vera Brozzoni explora a rica imagética sexual nos vídeos da Björk, observando que, com muita frequência, a artista corajosamente revela “seu eu erótico”. No livro Unruly Media: YouTube, Music Video and the New Digital Cinema, Carol Vernalis questiona se as várias apropriações das cenas de dança sincopadas dos musicais de Busby Berkeley são progressivas ou apenas nostálgicas. Pensando em “It’s Oh So Quiet”, Vernalis diz que o uso da câmera lenta por Jonze aponta para uma “retórica diferente, como se estivesse levantando questões sobre a diferença entre o passado e o agora”. Essas leituras dos vídeos de Björk apontam para a complexidade e riqueza que abundam nesses projetos, em si, uma pequena história de experimentação e curiosidade em videoclipes.
Mas vejam bem! Não precisamos de justificativa acadêmica para sancionar de alguma forma o conjunto de videoclipes que constituem mais uma esfera da incrível arte de Björk! Em vez disso, podemos simplesmente listar algumas das qualidades que esse conjunto de obras representa: a Björk favorece as parcerias e escolhe bem os parceiros; rompe limites, preferindo o novo ao aprimoramento daquilo que já existe; explora as múltiplas e complexas facetas de ser mulher e famosa, apesar das consequências que tal orientação pode acarretar; e não tem medo do erótico, do emocional ou do pura e simplesmente tolo. Esses elementos compõem uma poética de possibilidade e risco, impregnada de humor e graça. E temos a sorte de receber esse belo conjunto de obras.

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